Proposta para o
CENTRO DE CONVENÇÕES DA BAHIA
Bairro do Comércio, Salvador-BA
A proposta nasceu da ideia de trazer o Centro de Convenções para uma área de preservação histórica e cultural da capital baiana. O terreno, ocupado pelo Grupamento de Fuzileiros Navais, no bairro do Comércio, neste contexto, aparece como uma excelente alternativa para a implantação de um empreendimento deste porte. Primeiramente por suas dimensões mas, também, pela localização estratégica e de garantida acessibilidade, dispondo de recursos modais os mais variados, desde o Plano Inclinado do Pilar, que poderá transportar turistas e participantes de feiras, que estejam hospedados na Cidade Alta, até o VLT (Veículo Leve Sobre Trilhos), previsto pelo poder público para ser implantado na região.
O conceito e partido vem da união de signos e elementos da cultura local. O ovo eclode da formação imagética de um nascimento metafórico, aludindo ao descobrimento das terras brasileiras e gênese de uma nação, a partir da implantação de sua primeira capital. A malha tensionada, cinética e terrosa, emula o relevo do sítio e sua icônica topografia, distinta em dois níveis (a cidade alta e a cidade baixa) separados por uma encosta de valor inestimável para a imagem da cidade, diluindo-se no interstício visual. E, por fim, o Bordado de Richelieu, originado na Itália medieval e largamente utilizado na França de Luis XIII, vindo a ser adotado por nossas Baianas em seus torços, batas e saias rodadas.
Desse caldeirão semiótico emerge a implantação de um conjunto arquitetônico que se pretende, per se, apontar para um marco simbólico num contexto icônico, de importância histórica, impondo-se sem se sobrepor, conjugando sem subjugar, ali, a forte preexistência.
No volume de formato ovalar serão instalados o Teatro maior, o Teatro menor e um pequeno Bistrô, além de um espaço de exposições temporárias no subsolo, conectado ao core de articulação entre as atividades e, também, ao edifício-garagem, que se implanta à rua de trás. Já na extremidade oposta do conjunto se eleva o prédio administrativo, que abriga, no último andar, um restaurante internacional, com vista privilegiada para a Baía de Todos os Santos.
O grande salão de feiras se descreve sob uma estrutura tensionada composta por três peles, sendo a inferior em ETFE (Ethylene Tetrafluoroethylene) incolor e, as duas superiores, em malha de aço intermeadas por leques cinéticos, fabricados em finas lâminas de CLT (Cross Laminated Timber), que devem girar individualmente, impulsionadas pelo vento, promovendo um sombreamento não estático e atraindo a atenção no percurso urbano e, porque não dizer, também marítimo.
Costurando todo o conjunto, vem um túnel em casca de concreto armado, fechado e sinuoso, que simula os percursos surpreendentes, rasgados por frestas repentinas de luz e paisagem, características intrínsecas deste lado da costa. Em sua face exterior, o túnel toca a calçada suavemente em curvatura geometricamente concordante com o plano do piso, permitindo a sua apropriação por esportistas urbanos amadores, a pé ou sobre rodas. A praça, ao fim, é extensão deste percurso e nela se implantam paisagismo e aparelhos diversos, no intuito de se criar, ali, um microclima de agradável frescor para aquela área de intensa insolação na costa oeste da capital.
Agregando-se o complexo, propõe-se a ocupação do cais das docas com equipamentos de lazer e contemplação, bem como bares e restaurantes com atracadouros próprios. À ausência dos galpões antigos correm estruturas de planos seriados vazados, executados em MLC (Madeira Laminada Colada), acarreando pérgolas de sombreamento que, ao passo que materializam a aura das velhas edificações, dão-se também a plasmar a sua tectônica, ora parecendo desmancharem-se por dentro, ora se frequenciando retilineamente por fora. Traços fluidos de uma poética identitária de lugar.